J'en ferai une beauté par contraste, je trouverai le contre-partie, j'établirai un dialogue entre la rudesse et la finesse, entre le terne et l'intense, entre la précision et l'accident. Et je condurait les gens a observer et à reflechir." (Le Corbusier, 1953)

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Maison du Brésil, 1953










Apesar de muito próximo do Pavilhão Suiço, e sendo a função dos dois idêntica, existe uma grande distância temporal e mesmo conceptual entre os dois edifícios. A Casa do Brasil foi projectada em colaboração com Lúcio Costa que, não tendo a possibilidade de se deslocar com frequência a Paris, delegou a responsabilidade do projecto sobre o seu amigo de longa data, em quem confiava plenamente. No entanto, e prevendo algum brutalismo que poderia caracterizar esta fase da obra de Le Corbusier, forneceu-lhe indicações precisas em várias cartas, às quais o arquitecto da Rue de Sévres nem sempre reagiu bem. Alguns dos pedidos apontavam no sentido de fazer uma residência desenhada para o espírito brasileiro, que fosse clara e harmoniosa, sem formas agressivas. Também em relação às cores a aplicar dá, logo desde o início, indicações precisas: para os quartos, sugere a utilização de verde escuro, azul claro, branco, amarelo e havana ; para a fachada traseira, sugere azul claro muito puro, para contrastar com o cinzento do betão. Em resposta a esta carta, Le Corbusier escreve a Lúcio Costa que respeitará as cores que ele indica para os quartos, até por serem cores do seu inteiro agrado. Quanto ao azul da fachada, não se compromete a respeitá-lo, por estarem em causa outros valores de integração na paisagem parisiense.
escadas. Sob o grande volume dos quartos, “espalha-se” o piso térreo, sinuoso e curvilíneo, contendo várias funções tais como recepção, sala de convívio, auditório, biblioteca, e ainda a casa do director, que se organiza na proximidade da rua adjacente. Esta sucessão de espaços ondula também no que respeita à cobertura, que vai acompanhando os acontecimentos internos. Em termos plásticos tudo isto tem uma representação muito intensa, através da cofragem marcada no betão, com uma estereotomia que segue simultaneamente a ondulação da planta e a da cobertura do volume. Existe neste edifício uma coesão excepcional de materiais, formas e cores, o que resulta num espaço extraordinariamente envolvente e acolhedor. A cor não é alheia a este fenómeno, dado que está sempre presente na afirmação dos pequenos acontecimentos que pontuam o espaço. As únicas cores usadas são o vermelho, o amarelo, o azul (nas suas versões primárias) e ainda pequenos apontamentos de verde. Os caixilhos, quando existem, são sempre pintados de amarelo. No entanto, em grande parte da extensão deste piso, que é completamente envidraçado, o vidro é aplicado directamente contra elementos verticais de betão deixado à cor natural. Estes elementos organizam-se segundo uma métrica harmoniosa mas irregular, à semelhança do que se verifica no convento de La Tourette.
Le Corbusier teve o cuidado de desenhar, ele próprio, um conjunto de elementos de organização deste espaço, nomeadamente bancos, mesas e dispositivos de iluminação. A iluminação dirige-se simultaneamente para o tecto e para o chão, sendo que no chão encontra reflexo num fantástico piso de ardósia preta, polida, que segue uma estereotomia irregular em consonância com os restantes elementos.
Nos quartos, os panos de parede são amaciados com reboco pintado de branco, mas todos os restantes elementos, incluindo os estruturais, são deixados com a textura natural do betão. No caso do tecto, apesar de ter também essa textura, é pintado com três das cores que pertencem ao vocabulário da obra.

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