J'en ferai une beauté par contraste, je trouverai le contre-partie, j'établirai un dialogue entre la rudesse et la finesse, entre le terne et l'intense, entre la précision et l'accident. Et je condurait les gens a observer et à reflechir." (Le Corbusier, 1953)

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Pavillion Suisse, 1930-32










7, Boulevard Jourdan
75014
Paris

Residência de estudantes em bom estado, salvo ligeiras alterações na fachada.

"Les 50 chambres sont construites semblables. L'équipement est identique. Mais une polychromie très hardie a permis une totale diversité: toutes les chambres paires sont semblables: murs et plafonds peints en gris sotenu. Les chambres impaires, alternant avec les paires sont revêtues de "Salubra" (collection Le Corbusier) aux couleurs les plus fortes, les murs d'une chambre étant diversifiés l'un de l'autre par la couleur."

Le Corbusier, em "L'Architecture Vivante", 1933

Este é um edifício totalmente inovador no conjunto da obra de Le Corbusier. Em simultâneo com uma rigorosa métrica que permitia o desejado uso de materiais pré-fabricados, são introduzidos pela primeira vez em arquitectura os objets à reaction poétique do universo corbusiano. Isto acontece nos pilotis que levantam o edifício do solo e constituem a base da sua estrutura, dado que para cima deste nível o edifício tem estrutura metálica. De forma a incorporar neles as necessárias courettes, L-C modela o corte dos pillotis em forma de “osso de cão”, o que provoca um efeito surrealista de contraste entre estas formas livres e a linguagem precisa e matemática do bloco que nelas se apoia.
Também as cores se distanciam do vocabulário purista, sendo introduzidas cores primárias sem misturas: o amarelo, o verde e o vermelho. Estas cores surgem lado a lado com os tons naturais dos materiais: madeira deixada à sua cor natural e betão pintado de cinzento.
De destacar neste edifício o tratamento da superfície de um pilar/courette que marca o início das escadas que levam aos pisos dos quartos: este é coberto com desenhos e escritos com o aspecto de papel de jornal. O conteúdo deste mural fotográfico expressa as ideias de Le Corbusier sobre arquitectura e urbanismo, pelo que o autor usou esta oportunidade residência. Esta intenção pedagógica também está presente nos bancos fixos revestidos a cerâmica pintada à mão pelo próprio arquitecto. Nestes mosaicos, ele transmite as suas ideias de relação da construção com o ciclo solar diário, a relação com a escala humana da construção expressa através do modulor, assim como outras imagens de carácter mais subjectivo, semelhantes às que viríamos a encontrar duas décadas mais tarde (1955) no Poéme de l’angle droit. A atitude de Le Corbusier perante o pilar, em termos de resultado plástico, parece ter como objectivo a dissolução do volume, que de outro modo teria grande presença no átrio de entrada da residência. Por outro lado, o conteúdo destas mensagens gráficas testemunha o seu desejo sempre presente de transmitir a sua mensagem, os seus pensamentos sobre uma arquitectura nova e humanista – não só através dos próprios edifícios, mas também através de mensagens claras, apelos à imprensa, numerosos escritos e publicações que sempre o acompanhariam paralelamente à sua obra construída.
da placagem de betão, dos pillotis e dos caixilhos pintados de preto. A cor só aparece em determinados momentos do seu interior, com destaque para o átrio de entrada e a sala de convívio, dominada por um grande mural da autoria do arquitecto. Mesmo os corredores de acesso aos quartos, nos vários pisos, são completamente brancos, assim como metade dos quartos. No entanto, intercaladamente com quartos completamente brancos e com a madeira do mobiliário deixada à cor natural, aparecem quartos com o tecto pintado numa cor viva proveniente originalmente da paleta da salubra. Este gesto provoca uma explosão de cor quando as luzes se acendem durante a noite, animando um edifício que durante o dia transmite uma imagem de harmonia clássica, matemática e austera. Creio que este é o primeiro registo, na cronologia da sua obra, em que Le Corbusier aplica cor no tecto dos seus edifícios.

Immeuble Clarté, 1930-32







Rue St. Laurent, 2
Genéve

Bloco de apartamentos, excelente estado, áreas públicas de acesso livre.
Estrutura metálica.

O nome deste edifício, que significa “claridade”, justifica-se no facto de ambas as fachadas serem totalmente em vidro, seja ele transparente nas varandas que, de dois em dois pisos, atravessam o edifício em toda a sua extensão. Estas têm estrutura metálica e o pavimento executado exclusivamente em madeira, visível em ambas as faces.
Mas a distribuição da luz não se limita aos apartamentos, que têem as suas paredes exteriores totalmente envidraçadas. Também nas caixa de escadas é utilizado um inovador sistema de distribuição da luz na vertical, através da execução dos degraus e dos patamares totalmente em tijolo de vidro apoiado em estrutura metálica. Ora a luz entra em abundância na cobertura de vidro do último piso, e flui pela caixa de escadas até ao piso de entrada, num interessante avanço daquelas que seriam preocupações de aproveitamente energético décadas mais tarde. Talvez este cuidado se justifique pelo enquadramento geográfico da construção, dado que na cidade suiça em grande parte do ano existe pouco sol, portanto seria de grande interesse potenciá-lo da melhor forma.
Na generalidade, os apartamentos são constituídos por dois pisos, abrindo-se um dos quartos/escritório do piso superior, em pé-direito duplo, para a sala do piso inferior. Esta organização justifica a existência de varandas apenas nos pisos onde se situam as zonas sociais. Interiormente, esta disposição é denunciada pela “invasão” dos patamares dos pisos pelas escadas em caracol de ligação interior entre os dois pisos dos apartamentos. Este tramo de cilindro é pintado numa cor destacada do branco das restantes paredes, embora as cores que podemos lá encontrar nada tenham que ver com as originais.
Na visita a este edifício, tive a sorte de o encontrar em obras de recuperação num dos blocos. Foi possível compreender bem o sistema construtivo: a estrutura é totalmente metálica, razão pela qual se encontra em perfeito estado oitenta anos após a sua edificação. O enchimento das é feito com palha misturada e fixada com algum cimento e outros materiais. As paredes interiores são em tijolo com uma espessura muito reduzida, aproximadamente 5 cm. Curiosamente, com o passar do tempo todos os apartamentos sofreram alterações à sua disposição e acabamentos, o que vem reforçar a ideia do “plan libre” e justificar a utilização de paredes leves e facilmente desmanteláveis para redefinição do espaço.
Uma das dificuldades com que a equipa de arquitectos a trabalhar permanentemente no local se confrontou, foi a reposição das cores originais. Não existe actualmente nenhum documento que testemunhe as intenções de Le Corbusier relativamente à coloração interior do edifício, até porque este parece ter sido pouco acompanhado, na sua execução, pelo arquitecto. Por outro lado, alguns dos apartamentos nunca foram construídos conforme o projecto, dado que tinham já um proprietário que os acabou a seu gosto. Exemplo disso é uma escada interior em madeira trabalhada, existente no interior de um apartamento desde a sua origem, em vez da escada de betão que existe nas restantes células. Imaginamos que relativamente à cor o processo possa ter sido semelhante. No entanto, foi elaborado um cuidadoso estudo científico, que analisou as várias camadas de revestimento das paredes, na tentativa de descobrir qual teria sido a primeira camada. Quase todas as camadas eram constituídas por papel de parede, embora as cores não correspondam às paletas que Le Corbusier organizou para a Salubra. De qualquer modo, tratam-se de cores pastel, quebradas, dentro do que seria esperado nesta altura. Fica no entanto por descobrir se estas cores faziam parte do projecto ou seriam moda à época.


L'Immeuble Clarté a été construit en 1931/1932 par le Corbusier et son cousin Pierre Jeanneret sur mandat de l'industriel genevois Edmond Wanner. L'immeuble Clarté occupe une position clé dans l'œuvre de l'architecte. Épisode capital dans un projet mené comme un travail de recherche, « la Clarté » représente d'une manière exemplaire la contribution apportée par Le Corbusier et Jeanneret à la rationalisation des travaux de construction proprement dits (« montage à sec »), au renouvellement des conceptions de la structure porteuse (squelette en acier, soudé) et au renouvellement de la culture de l'habitat des classes moyennes (« immeuble villa »). L'Immeuble Clarté est un immeuble locatif de 8 étages et ... appartements de tailles et formes différentes. Il présente, de l'extérieur, deux façades opposées entièrement vitrées. Toute la structure de l'immeuble Clarté repose sur des piliers. Cette charpente métallique libérant ainsi les façades et murs intérieurs de toute fonction portante accorde une grande liberté d'agencement des appartements de types divers. L'immeuble est pourvu d'une chaufferie centrale, de nombreuses caves, d'une dizaine de garages, de garages à vélos, etc. La cage d'escalier dans chaque allée est éclairée par une toiture voûtée en dalles de verre translucide. Chaque allée est pourvue d'un ascenseur. Tous les appartements sont aménagés en fonction des deux grandes baies vitrées les éclairant profondément. La polychromie dans les appartements se réduit à deux couleurs : la couleur brun fonçé et le bleu clair (unesco)

Located 2-4 rue st-laurent in the Villereuse quarter, this building may seem dated today. however, at the time of its conception(1931-1932) by the great architect of swiss origin, Le Corbusier, it was a vanguanrd project, a small revolution in construction technics. Built entirely of steel ans glass, its matel framework frees the interior walls of any load-bearig fuction, thus permiting greater freedom in the layout and furnishing of the rooms.The facades all of glass, enable a maximum of light to enter, whence the names "clarté"(light) or "maison de verre"(glass house) for this building (http://forum.aroots.org/)

Quartier Moderne Frugés a Pessac, 1925


(foto retirada do site da fundação L-C)


Rue Le Corbusier
33600 Pessac Bordeaux

Conjunto de casas do tipo "citrohan". Uma delas foi recuperada para o estado original e funciona como museu. As restantes estão em mau estado.

Maison La Roche, 1923-24









Square du Docteur Blanche, 10
Paris

A Villa La Roche alberga um museu de pintura e escultura de Le Corbusier, além da evidente e espantosa experiência de arquitectura que o espaço nos eferece. Não parece ter cumprido a encomenda do cliente, um coleccionador de arte que pedira a Le Corbusier “uma moldura para a sua colecção”, dado que este acabou por oferecer-lhe um “poema de paredes”, obra completa de arquitectura, escultura e pintura, onde era muito difícil expor os Picasso e Braque da sua colecção. Le Corbusier escreve mesmo, em carta a Ozenfant datada de 16 de Abril de 1925: “I insist absolutely that certain parts of the architecture should be entirely free of paintings, so as to create a double effect of pure architecture on one hand and pure paintings on the other.” Na verdade, todas as paredes da casa correspondem a um bem orquestrado jogo de planos, cada um deles com uma determinada proporção, cor e textura, de forma a interagirem perfeitamente entre eles, sem necessiadade de qualquer elemento decorativo. Desta forma, a casa pouco teria a ganhar com a exposição de grandes obras de pintura, visto que já se bastava a si própria em termos de emoção artística.
Na minha opinião, este é um edifício particularmente envolvente e enigmático, pelo que mereceu mais do que uma visita, em horas do dia e com diferentes condições atmosféricas. Durante as minhas pesquisas prévias, li uma empolgante descrição que o arquitecto John Hejduk fazia da estadia por um período de 24 horas nesta casa , daí que as minhas expectativas fossem grandes. Hejduk comparou o cromatismo e mesmo a relação formal entre as partes desta casa, a um quadro de Ingres, Madame D’Hausonville. A subjectividade desta comparação é discutível, mas não há dúvida de que esta é uma obra em que o valor arquitectónico e escultórico se completa com uma cuidada pintura de certos planos, oferecendo-se-nos o percurso através de uma obra de arte total.
A Villa Jeanneret-Raaf situa-se no mesmo volume construído que a Ville La Roche, funcionando conjuntamente em alçado, para maior monumentalidade. Tem um programa mais simples do que a primeira, fundamentelmante residencial, apenas com uma sala de música no piso térreo. Neste momento funciona como sede da Fundação Le Corbusier, pelo que aloja vários serviços desde escritórios, armazenamento de obras e biblioteca acessível a todos quantos estudam a obra do arquitecto. Foi nessa condição que visitei a casa e tive oportunidade de passar uma tarde na sala fantástica do último piso, onde se situava a sala de estar e biblioteca dos Jeanneret-Raaf. Mesmo num dia cinzento, a sala tinha uma iluminação natural extarordinária, conseguida através de grandes vãos envidraçados no plano da fachada, sem qualquer sombreamento. O vocabulário cromático era em tudo semelhante ao da Ville La Roche.

Atelier Ozenfant, 1922-23







53, Avenue Reille
75014 Paris
Casa/atelier

Não foi possível entrar neste edifíco que surpreendeu pela sua inserção cuidada na escala da Avenue Reille e a simpática relação com o bairro vizinho, de pequena escala, apoiado numa pequena rua cujo enfiamento é dominado pela fachada lateral da casa/atelier de Ozenfant. Não há registo de ter sido utilizada qualquer cor no seu interior. Estava aqui a ser experimentado o ideal de vida avant-garde do “artista ascético”.

Villa Stein, 1926-28




http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp333.asp


A fachada frontal da Villa Stein: um exorcismo corbusiano (1)
Ronaldo de Azambuja Ströher


Ronaldo de Azambuja Ströher, arquitecto, mestre e doutorando pelo PROPAR/UFRGS




A fachada frontal da Villa Stein, em Garches, nos arredores de Paris, projectada por Le Corbusier em 1927, sempre me pareceu uma composição estranha: o jogo de elementos que a estruturam e a relação com a fachada de fundos deixam no ar uma inquietação que, certamente, justificaria um estudo aprofundado. Mas, como bem o sabemos, a quantidade de obras importantes por ele projetadas contribuiu, até pouco tempo, para distrair a atenção daquelas que pareciam mais difíceis de interpretar.

Escritos mais recentes de estudiosos como Colin Rowe (2) e Alan Colquhoun (3) foram, de certa forma, fundamentais para o estabelecimento de uma nova leitura sobre a obra corbusiana.

Ao fazer um trabalho sobre um texto escrito por Colin Rowe e Robert Slutzky intitulado Transparency: literal and phenomenal (4), o exame mais aprofundado da Villa Stein me forçou a reconhecer a potência da fachada frontal e, de certa maneira, acabou subvertendo o objetivo da análise a que eu me havia proposto.

E essa subversão viria, de certa maneira, confirmar os comentários feitos por Fernando Perez Oyarzun a respeito de conteúdos implícitos e não necessariamente evidentes que muitas obras suscitam e que, de maneira mais marcante nos prédios-manifesto de Le Corbusier, fazem com que eles sejam passíveis de múltiplas e continuadas interpretações – interpretações que, tal como a leitura de um campo magnético ou campo de forças invisíveis, extrapolam de maneira notável a simples observação e descrição dos elementos de arquitetura, de composição e da técnica, evidenciados na obra (5).

Ao longo da argumentação, Rowe/Slutzky salientam a importância da visão frontal que Le Corbusier concede às fachadas da frente e do jardim em Garches. Ressaltam, também, a imponência da fachada dianteira na qual a presença da fenêtre en longueur de lado a lado, em dois pavimentos e com pouca altura, rompe a rigidez do paralelepípedo fechado, possibilita a equivalência dos planos de vidro com os de alvenaria, e exacerba o efeito do jogo de planos e tiras, permitindo essa interpretação particularmente cubista.

Essa leitura do processo projetual que Le Corbusier emprega em Garches, considera o volume proposto como uma espécie de fatiamento de planos e porções de espaço, tanto vertical quanto horizontalmente. Os desenhos de Bernard Hoesli, com respeito a essa interpretação, mostram um comparativo do processo aplicado ao quadro purista de Le Corbusier e a sua utilização de planos/superfícies em Garches.

Mas por mais que se possa concordar com a intelectualidade dessa visão, parece impossível deixar de interpretar a proposta de Le Corbusier, recorrente em boa parte de suas obras, como um volume que, mais do que composto por planos e fatias de espaço, é constituído por uma caixa que ao ser escavada e, por assim dizer, decomposta, começa a perder sua integridade, sem que possamos, no entanto, ignorar sua natureza volumétrica, mesmo com o acréscimo de elementos tais como escadas, sacadas, marquises, etc. Esse processo fica claramente evidenciado ao examinarmos projetos como o de suas duas casas em Stuttgart, ou como o de sua paradigmática Villa Savoye.

A Villa Stein, vista dos fundos, apresenta também essa possibilidade de interpretação: uma interpretação onde se constata uma espécie de desmantelamento das partes e elementos a partir de uma caixa fechada, e como tal, nos permite a proposição de um outro desenvolvimento de planos e volumes.

Apesar de Rowe e Slutzky terem insistido no efeito planar da fachada, até pela constância com que Garches é fotografada ortogonalmente, uma das possíveis interpretações volumétricas da composição corbusiana, em que as fenêtres en longueur dobram-se nas laterais, parece sugerir a idéia de que as desconsideradas fachadas laterais têm um papel fundamental como superfícies de passagem para um novo estado edificado que encontraremos no fundo do prédio.

Dentro dessa hipótese, teríamos de considerar a fachada frontal como uma espécie de plano dobrado ou máscara que contêm e circunda, por três lados, uma complexa soma de espaços e elementos, permitindo, pelo quarto lado (isto é, pela fachada do jardim), a visão de toda essa complexidade interna.

Na verdade, no projeto em Garches, além da imponência e da tensão frontais, chama a atenção o inesperado contraste com a fachada traseira, a ponto de imaginarmos que se tratam de casas diferentes. E isto não acontece apenas pela estratégia de desmantelar a caixa. Na maioria dos casos, Le Corbusier realiza esse processo mantendo o lado fechado, ou aquele em que melhor se identifica o sólido, como uma figura neutra onde as inserções e as aberturas conformam-se a regras facilmente inteligíveis. Tal não é o caso de Garches.

Nos desenhos de fachada da Villa à Garches publicados na Oeuvre Complète (6), Le Corbusier preocupa-se em demonstrar a pureza geométrica do retângulo áureo onde elas estão inscritas, juntamente com seus tracés régulateurs. E é justamente nestes desenhos que ficará clara a falta de parentesco entre as duas fachadas.

Ao recorrermos, mais uma vez, a outro artigo (7) de Colin Rowe – The Mathematics of the Ideal Villa – veremos o paralelo que ele estabelece entre a Villa Stein e a Villa Foscari (Malcontenta), de Andrea Palladio, enfatizando as proporções adotadas em ambos os projetos. Embora o enfoque de Rowe esteja mais centrado na planta e na distribuição espacial do que nas elevações, ele não deixa de observar algumas características marcantes das fachadas de Garches onde “observa-se uma permanente tensão entre o organizado e o aparentemente fortuito”.

Considerando a contraposição entre uma fachada pública e propositadamente imponente, e outra, muito mais doméstica e coloquial, poderíamos – já que Rowe não o fez de maneira específica – equiparar Garches à Malcontenta, para enfatizar a diferença entre a fachada formal, com pórtico e munida com toda a imponência que convém à visão de quem chega pelo canal de Brenta, e a fachada oposta, voltada para a alameda, onde a rigidez é drasticamente diluída por conta de um frontão simplesmente aplicado sobre o reboco (quase rabiscado, poderíamos dizer) e interrompido pela curva da grande janela termal.

É claro que essa comparação exige a lembrança de pelo menos uma das diferenças entre os dois projetos, pois o terreno da Malcontenta é mais largo e o canal de Brenta faz uma inflexão que permite a completa visão de um dos lados da casa, o que não acontece em Garches, onde Le Corbusier, ao implantar o prédio retangular no sentido oposto ao retângulo do estreito lote, quase bloqueia o terreno e privilegia o “fachadismo”.

Nesse gesto de quase fechar o terreno, Le Corbusier possibilita que se interprete o prédio mais como uma residência urbana do que como uma Villa suburbana, já que o conceito da visão frontal seria pertinente num edifício colocado entre medianeiras, onde os futuros vizinhos provavelmente encostariam seus prédios nas laterais, destruindo qualquer tentativa de valorização dessas fachadas utilitárias.

Na Oeuvre Complète, Le Corbusier apresenta alguns croquis, feitos em 1926, onde didaticamente mostra um estudo anterior para o projeto de Garches, em que o edifício está colado a uma das divisas do terreno, além de estender-se para frente através de um corpo anexo transversal ao bloco principal. Talvez sua opção definitiva pelo objeto isolado possa ser explicada pela conscientização de que aquela fachada na divisa, ao contrário do que acontece nas cidades, dificilmente seria encoberta por alguma construção vizinha. De qualquer maneira, a atitude de contrapor o retângulo da planta do prédio ao do terreno até perto das divisas laterais, além das razões de orientação solar, poderia ser interpretada como a busca do objeto autônomo, típica da doutrina modernista. Além disso, as laterais livres seriam importantes para a qualificação das fenêtres, que mais do que as convencionais aberturas na parede maciça, dobrar-se-iam para ampliar a propaganda de um dos pontos básicos da doutrina corbusiana.

Não obstante muitas das casas de Le Corbusier serem urbanas e várias delas mostrarem a grande testa frontal, o resultado de Garches é completamente insólito, denunciando a formação clássica do arquiteto (8) com uma veemência que, acredito, dificilmente veremos em outro projeto seu. O fato da fachada frontal prestar-se muito bem como ilustração de um retângulo bem proporcionado, no qual estão inseridos outros retângulos menores, por vezes invertidos, com a mesma proporção, parece ultrapassar a importância da comprovação da fenêtre en longueur. No entanto, estaríamos errados ao afirmar que essas listas horizontais são pouco importantes, já que, somadas ao balcão central superior, conferem ao prédio toda a imponência e majestade que poucos edifícios do mesmo porte, incluídos os clássicos, alcançaram. Esse balcão/tribuna, que parece querer transformar a Villa num ciclope, age como um elemento que puxa a composição para cima e é fundamental para o estabelecimento da metade clássica superior, que é contestada pela desordem inferior, onde além dos elementos – pequena sacada e marquise – que perturbam a fenêtre do primeiro pavimento, as cinco aberturas do pavimento térreo são diferentes e, de certo modo, conflitantes.

A fenêtre do lado direito obedece à regra de suas irmãs superiores até o ponto em que precisa ceder espaço para a nova regra que Rowe assinala, isto é, a alternância da proporção 2:1:2:1:2. A faixa vertical representada pela parede, que pretende implantar a nova regra onde o lançamento estrutural (em vez do espacial) poderá aparecer, acontece de maneira um pouco frustrante, posto que a porta de acesso, bastante larga, não chega a afirmar a verticalidade mas, ao contrário, por ter sua verga coincidente com a da fenêtre, acaba ressaltando a linha horizontal. Essa sensação é também reforçada pela marquise que sobressai corajosamente do edifício e que marca, com sua base, uma nova linha horizontal que caracterizará a esquadria central, em rigoroso alinhamento vertical com a tribuna.

Essa esquadria central, definida como um retângulo equivalente ao da tribuna superior, parece ter sido planejada justamente para compor uma nova ordem, dessa vez, vertical. No entanto, a colocação de uma outra esquadria, com as mesmas proporções, na extremidade esquerda do prédio, distrai a possibilidade de centralização e acaba por tornar mais clara a continuidade da linha horizontal da base da marquise. O balcão individual que pretende equilibrar a marquise, não obstante definir-se num quadrado, também ajuda a reforçar a horizontalidade.

Mas as novas linhas horizontais, definidas pelas vergas das esquadrias e base da marquise e do pequeno balcão, são desafiadas por mais três pequenos elementos que encerram a composição. Trata-se da porta de serviço, rebaixada e de duas esbeltas janelas superiormente alinhadas com a verga da porta. O rebaixamento da entrada, pelo que nos mostra o exame da planta, parece limitado pela altura da escada interna e pela condição de passagem sob ela. E embora não seja a intenção deste trabalho questionar a tortuosa planta da Villa Stein, acredito que não passaria pela cabeça de qualquer crítico duvidar da capacidade de Le Corbusier para resolver os problemas funcionais com que se defrontou. Assim, mesmo que nos vejamos tentados a pensar que aquele trio de pequenas aberturas foi o resultado de uma fadiga do esforço de composição e o conseqüente abandono, ou então, uma intervenção posterior, execrada pelo arquiteto, ele parece estar em perfeita consonância com a estratégia de redução do classicismo superior.

Mais do que isso, esses três elementos incômodos da Villa Stein parecem querer dizer que a composição global admite e, propositadamente, tira partido da contradição e da pluralidade dos elementos. Assim, ao forçar a desarmonia dos elementos da fachada frontal, negando as possibilidades modernistas que a tranqüila fachada de fundos oferece, Le Corbusier parece querer afirmar que aos arquitetos de sua geração, a tentação do classicismo precisa ser exorcizada.

Notas

1
O trabalho destinava-se a comentar aspectos abordados pelo prof. Fernando PÉREZ OYARZUN, em palestras proferidas em junho de 2000, no PROPAR/UFRGS.

2
ROWE, Colin. The mathematics of the ideal villa and other essays. Cambridge, 1995; ROWE, Colin e SLUTZKY, Robert. Transparence reele et virtuelle. Paris, Éditions du Demi-Cercle, 1992.

3
COLQUHOUN, Alan. Essays in architectural criticism. Cambridge, The MIT Press, 1991.

4
O artigo foi escrito em 1955, quando os dois autores eram professores da Universidade do Texas, e publicado pela primeira vez em 1963, na revista Perspecta, da Universidade de Yale. Esse artigo, posteriormente reeditado no livro de Colin Rowe, The mathematics of the ideal villa and other essays, teve sua publicação inicial adiada em virtude da resistência dos editores anglo-saxãos (tendo sido, inclusive, recusado pela Architectural Review, que já havia publicado outros artigos de Rowe), provocada pela comparação desfavorável entre o prédio da Bauhaus em Dessau, de Walter Gropius, e dois trabalhos de Le Corbusier – a Villa Stein em Garches e o projeto não executado para a Liga das Nações em Genebra. Traduzido para o francês, na forma de livro, esse artigo ganhou comentários interpretativos de Werner Oechslin e Bernard Hoesli em textos presentes em ROWE, Colin e SLUTZKY, Robert. Op. cit.

5
PÉREZ OYARZUN, Fernando. Citações em palestras proferidas no PROPAR/UFRGS. Porto Alegre, jun. 2000.

6
LE CORBUSIER e JEANNERET, Pierre. Oeuvre complete – 1910-1929. Zurich, Les Éditions d’Architecture Erlenbach, 1946.

7
Artigo esse que, bem mais famoso, dá nome ao livro em que está publicado o texto ao qual me referi anteriormente.

8
Richard Padovan, depois de lembrar que Le Corbusier foi o único dos pioneiros do Movimento Moderno “que coloca os sistemas de harmonia e proporção no centro de sua filosofia projetual”, lembra que não obstante o princípio dos traçados reguladores já ter sido anteriormente aplicado, em prédios como as casas La Roche-Jeanneret, a Villa Stein é o único prédio dentre os cinco exemplos de sua obra inicial, que o arquiteto usa para ilustrar seu livro Le Modulor. PADOVAN, Richard. Proportion. London, E & FN Spon, 1999, p. 317-320.

Ville Savoye, 1928-31

















82, rue de Villiers, Poissy
Ouverte tous les jours sauf le lundi.
Fermée le lundi, les 1er janvier,
1er mai, 1er et 11 novembre et du 25 décembre au 1er janvier
Du 1er mars au 30 avril de 10 à 17 h
Du 2 mai au 31 août de 10 h à 18 h
Du 1er septembre au 31 octobre de 10 h à 17 h
Du 2 novembre au 28 février de 10 h à 13 h et de 14 h à 17 h
Dernières admissions 20 minutes avant chaque fermeture.
Tél : 01 39 65 01 06
RER ligne A gare de Poissy puis bus 50 direction "Villa Savoye" .

O paradigma construído do movimento moderno marca o último e mais refinado momento do discurso purista aplicado à arquitectura. A visita teve lugar numa tarde de Domingo e de chuva, em que a luz era extremamente branca, intensa, límpida em certas partes da casa. Tenho que destacar a cozinha no que respeita a esta vertente “higienista” da arquitectura desta fase, uma verdadeira “máquina de cozinhar” cheia de reflexos brancos e metalizados, impecavelmente ordenada e monocromática. Este tipo de tratamento não seria em nenhum caso adequado para as zonas mais ínimas de uma casa de férias burguesa Era necessário suavizar a luz que entra em grandes quantidades pelas fenêtres en longueur e por isso as paredes onde bate a luz que entra nos quartos são pintadas num rosa suave e talvez até “morto”, retirado da segunda gama de cores do manifesto purista. Vários tons desse género são usados nos quartos da casa: desde um rosa mais alaranjado para o espaço do filho dos Savoye, até um rosa muito suave (próximo do rosa bebé) utilizado no quarto do casal.
Surpresa foi a utilização de um azul ultramarino (eu diria até que próximo do azul do Yves Klein) em dois locais da casa diferenciados. Um deles é um estreito corredor de acesso ao quarto do filho do casal Savoye, em que uma das paredes é pintada com esse azul intenso e vibrante. O corredor termina numa clarabóia que estende verticalmente o corredor de forma a que este não seja cortado abruptamente pela porta. Ora esta luz zenital projectada sobre aquele espaço estreito, que se tinge inteiramente pelo reflexo da cor azul, desmultiplica a dimensão do corredor, dado que a parede azul parece recuar e o espaço de circulação tende a parecer mais largo do que realmente é. Também na divisão da casa que serve de toucador a madame Savoye, a parede oposta àquela por onde se entra vindo do quarto é pintada nesse mesmo azul. De notar que esta cor aparece mais uma vez contígua a uma entrada de luz, neste caso uma janela quadrangular completamente justaposta à parede azul num dos lados desta, e uma janela que rasga a parede do outro lado, horizontalmente de fora a fora.

transcrições

Sobre el color: "Hay necesidades prácticas en el mecanismo interior de la vivienda, como por ejemplo en el auto, alrededor del motor. Y cuando hay elementos molestos, gracias a la policromía es posible hacerlos resaltar o aplastarlos, pintarlos oscuro o brillante y así se atrae la mirada, como un prestidigitador o como un gran actor, donde uno quiere. Así, el ojo, la gente, estará muy sorprendida al ver cuánta libertad hay en algo muy comprimido.

"El color es algo admirable. Es como la sangre que anima las cosas visuales. El color cumple un papel enorme, capital, desde el punto de vista psicofísico. En arquitectura, la policromía interviene, pero es secundaria. No era indispensable cuando se construía en piedra.
Entonces un cuarto era rosado, el otro verde, el otro azul. Pero cuando se hacen cosas extravagantes en hormigón con edificios como suspendidos en las nubes con tabiques, o perspectivas inesperadas, o espacios también inesperados, la policromía permite muchas cosas. Nació así una nueva ciencia en relación con el hormigón armado."



"http://www.arquitectura.com/historia/protag/corbu/corbu_4/corbu_4.asp

Obras a visitar


França/Suiça


Paris e arredores

zona de Paris, 27 de Março a 4 de Abril:
- Maison la Roche/ Fundação Le Corbusier (8-10, square du Docteur Blanche)
- Apartamento de Le Corbusier (24, Rue Ningesser et Coli)
- Pavilhão Suiço (cidade universitária)
- Maisons Jaoul (Neuilly sur Seine)
- Ville Savoye (Poissy)
- Villa Stein (Garches)

Suiça, 21 a 25 de Fevereiro
- Maison Clarté (Genebra)
- Centro Le Corbusier (Zurique)
- La Petite Maison (só abre ao público no Verão)

Ainda não agendado:
- Ronchamp
- La Tourette